segunda-feira, 10 de março de 2008

Questão de ordem

Tenho acompanhado atentamente as discussões sobre o uso das famigeradas células tronco embrionárias na mais alta corte brasileira. É evidente que um assunto da magnitude e importância que esse apresenta, traz (e ainda trará) muita luz à discussão, tanto no meio científico, quanto no meio religioso, político e, por que não dizer, econômico também.


A aprovação ou não das pesquisas, com essas células, poderá dar ânimo novo às ciências ligadas a área da saúde. O tratamento com células tronco já tem apontado resultados dos mais promissores para diversas pessoas que sofrem de doenças, cuja cura, até então, era algo para muito além de uma possibilidade real. Por outro lado, há uma séria questão ética que não encontra consenso nem mesmo na classe médica, nem junto aos demais acadêmicos ligados à saúde.
Por trás de toda discussão, há como apanágio a questão da vida e, nesse caso, a grande pergunta a ser respondida é: Os estudos com as células tronco embrionárias representam ou não ceifar a vida de outro ser humano?


Parece-me uma questão bem interessante – saber quando realmente começa a vida; Ela tem inicio na fecundação, mesmo que in vitro, ou dá-se após a implantação do óvulo no útero de uma mulher, para que se desenvolva em toda sua plenitude?


É justamente nesse ponto que procuro entender os ânimos e vontades geradores de posicionamentos tão extremados de lado a lado. Pois, vejo que, por coerência do pensar doutrinário da igreja católica, a possibilidade de fecundação in vitro jamais poderia ser aceita. Ao contrário, deveria alinhar-se com a postura de combate ao uso dos meios contraceptivos artificiais. Contra os quais há uma ferrenha celeuma e não aceitação.


Bom, partindo-se do princípio que a fecundação in vitro ocorre necessariamente dentro de um laboratório, portanto, fora do corpo humano e, ato reflexo da manipulação humana do processo natural de fecundação, como justificá-la e aceitá-la como um método permitido à luz da teoria católica? Mas, mesmo assim, a igreja o aceita como forma de geração da vida. Ora, se há uma forte indicação contrária aos métodos contraceptivos não naturais, seria de se esperar que houvesse posição semelhante na questão da fecundação extracorpórea. No entanto, não é a isso que se assiste.


Creio que nesse ponto a igreja deveria rever sua posição. Pois, o material genético que está nos laboratório, jamais irá ser implantado no ventre de qualquer mulher e, a essa altura, constitui-se em resíduo de um processo que a própria igreja admite. Cujo destino mais provável, caso a suprema corte considere anticonstitucional a lei de biosegurança, seja mesmo o lixo. Perdendo-se de vista a nobre função da pesquisa científica e atrasando a possibilidade de cura par milhões de seres humanos.


Façamos um paralelo com duas outras questões que em muito emperraram as engrenagens do conhecimento humano, em função da dogmática católica – primeiramente observemos a questão da teoria heliocentrista, apresentada por
Nicolau Copérnico, contradizendo o geocentrismo, proposto por Ptolomeu e defendido pela igreja católica até quando não havia mais sentido mantê-lo. Na ocasião, a igreja não só discordou de Copérnico, como o fez retratar-se e desmenti seus próprios estudos, sob pena de arder na fogueira da santa inquisição. Esse episódio contribuiu, sobremaneira, para atrasar em pelo menos meio século o progresso das ciências náuticas. Um segundo fato que trago à baila é a questão dos estudos antropométricos de Leonardo da Vinci, realizados em meio ao medo da fogueira e a ira papal. No entanto, qual teria sido o futuro da anatomia, da medicina legal e de tantas outras ciências que necessitam manipular corpos humanos (cadáveres) para poderem se desenvolver?


Espero que a suprema corte e seus ilustres ministros mantenham a tendência de voto (já declinada), e optem pelo bom senso e a racionalidade, propiciando a continuidade das pesquisas e a fé de muitos cristão que poderão, através delas, obterem suas curas.

Afinal os doentes de corpo são bem mais fáceis de serem tratados, já aos engessados de mente só lhes restam agarrar-se aos dogmas e paradigmas como panacéia.

Alexandre Carneiro Gomes de Melo

É Major da Polícia Militar de Pernambuco

Pós-Graduado em Capacitação Pedagógica pela UFRPE

Presidente do Instituto Collectivus

Responsável pelo Blog do Limão

Um comentário:

José Mário disse...

Valeu Gomes, como sempre você muito bem sintonizado com as nuances sociais, precisa apenas deixar de fumar, até porque, não existe, ainda, estudos para células troncos direcionados ao combate ao mal causado pelo cigarro e suas milhares de toxinas. Ainda lembro daquele colega atleta que derrubava tudo na equipe da academia...bora meu velho, joga essa m...pra bem longe!
Forte abraço!